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O que se sabe sobre a vacina da AstraZeneca
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Publicado em 17/02/2021

 

O que se sabe sobre a vacina da AstraZeneca

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Vacina da AstraZeneca não precisa ser armazenada a temperaturas extremamente baixas e é mais barata

17 min de leitura

Quem desenvolveu a vacina da AstraZeneca contra covid-19?

A vacina, chamada AZD1222, foi desenvolvida por uma equipe da Universidade de Oxford e da empresa farmacêutica britânico-sueca AstraZeneca. A equipe de pesquisa inclui cientistas do Instituto Jenner e do Oxford Vaccine Group.

 

Como funciona a vacina da AstraZeneca?

Trata-se de uma vacina vetorial. Segundo a Fiocruz, ela foi desenvolvida com a tecnologia de vetor não replicante de adenovírus de chimpanzés, inofensivo para seres humanos. Trata-se de uma versão mais fraca do vírus de gripe comum em chimpanzés e contém igualmente proteínas contidas no material genético do vírus Sars-Cov-2.

Após a vacinação, o adenovírus penetra em algumas poucas células do corpo humano. Essas células utilizam o gene para produzir a proteína Spike (espícula, ou picos, na superfície do vírus). O sistema imunológico então reconhece isso como estranho e, em resposta, produz anticorpos e células T, que idealmente protegem contra a infecção com o coronavírus Sars-CoV-2.

 

Em quantos países a vacina da AstraZeneca foi liberada?

A vacina da AstraZeneca já foi licenciada em mais de 50 países em quatro continentes, de acordo com a empresa (até 10 de fevereiro). O primeiro país a conceder aprovação foi o Reino Unido, em 30 de dezembro do ano passado, seguido por outros grandes mercados, como a União Europeia e a Índia.

 

Quão eficaz é a vacina AstraZeneca contra o novo coronavírus?

Considerando o coronavírus original, a vacina da AstraZeneca alcançou 76% de eficácia em ensaios clínicos após a primeira dose. Quando uma segunda dose é administrada 12 semanas ou mais depois da primeira, a eficácia aumenta para 82%. Outro ensaio apresenta uma eficácia de 84%. E, em outro estudo, descobriu-se que a vacina reduz a duração da disseminação e a carga viral, o que poderia retardar a transmissão do vírus. Com base nesses dados, a vacina recebeu aprovação em muitos países.

 

Quão eficaz é a vacina AstraZeneca contra a mutação originada no Reino Unido?

Um estudo da vacina da AstraZeneca contra a variante B117, registrada pela primeira vez no Reino Unido, encontrou uma eficácia semelhante à do vírus original. Os resultados do estudo mostram que a vacina é 75% eficaz contra a variante do Reino Unido.

 

Quão eficaz é a vacina AstraZeneca contra a mutação sul-africana?

O conhecimento atual sugere que a eficácia é significativamente menor contra a mutação B1351, mas os números exatos ainda não estão disponíveis. O governo sul-africano decidiu parar a introdução da vacina AstraZeneca porque um estudo com 2 mil pessoas no país revelou que a vacina oferece apenas "proteção mínima" contra a covid-19 leve e moderada causada pela variante B1351 do coronavírus.

 

A variante é considerada mais perigosa porque se espalha mais rapidamente. Ela causa a maioria dos casos de covid-19 na África do Sul. Um aspecto positivo é que nenhum dos participantes do estudo sul-africano morreu, ficou gravemente doente ou teve que ser hospitalizado. No entanto, a eficácia contra casos graves de covid-19 causados pela variante B1351 também não pôde ser avaliada no estudo porque os participantes eram de baixo risco, disseram os pesquisadores da Universidade de Witwatersand, de Joanesburgo, em sua análise. Em carta datada de 10 de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) continua recomendando a vacina da AstraZeneca, mesmo que haja mutações em um país.

 

AstraZeneca defende sua vacina. Em comunicado, disse que "a atividade neutralizante de anticorpos é equivalente à de outras vacinas contra covid-19 que mostraram funcionar contra doenças mais graves, especialmente quando o intervalo de dosagem é otimizado para 8 a 12 semanas".

 

Especialistas confirmaram à DW haver no imunizante pelo menos alguma proteção contra a variante sul-africana. "A vacina da AstraZeneca sempre proporcionará alguma proteção contra a variante B1351 porque os anticorpos formados após a vacinação reconhecem e bloqueiam partes da variante viral", disse à DW Sarah Pitt, do Instituto Britânico de Ciências Biomédicas.

 

-Yong Shi, professor de Microbiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Texas, deixa claro numa entrevista à DW que qualquer uma das vacinas aprovadas oferece proteção contra a covid-19.

 

Ele afirma que talvez a doença se manifeste de forma mais branda, mas é muito melhor do que não estar vacinado. As variantes com que uma pessoa é confrontada e a imunidade dela podem afetar o nível de proteção da vacina, argumenta Pei-Yong Shi.

 

Por que a vacina da AstraZeneca é menos eficaz contra a mutação sul-africana?

A variante B1351, também conhecida como 501YV2, primeiramente reportada na África do Sul, tem mutações na proteína Spike. Esta é a parte do vírus que se prende às células humanas e permite que ele as infecte. Às vezes uma mutação é prejudicial ao próprio vírus, às vezes não faz nada, e às vezes torna o vírus mais prejudicial ao ser humano, por exemplo, se ficar mais infeccioso.

 

As vacinas contra covid-19 já aprovadas produzem anticorpos contra a proteína Spike da cepa original do Sars-Cov-2. Mas agora os anticorpos têm como alvo os vírus cujas Spike eles não reconhecem completamente.

 

"A forma do vírus mudou ligeiramente, mas a resposta produzida é baseada no original", explica Sarah Pitt. Assim, o vírus ainda pode se instalar numa célula humana. Entretanto, a vacinação ainda oferece alguma proteção porque os anticorpos continuam bloqueando partes do vírus que eles reconhecem. A quantidade de anticorpos necessários para combater o coronavírus ainda não foi determinada, disse Pitt.

 

Estudos da fabricantes de vacinas Biontech-Pfizer e Moderna mostram que estas vacinas são um pouco menos eficazes contra a variante B1351 do vírus.

 

O que a AstraZeneca está fazendo para melhorar a eficácia contra a mutação sul-africana?

A chefe do grupo de pesquisa de Oxford, Sarah Gilbert, disse à BBC que a vacina evita formas graves da doença e que os desenvolvedores estão trabalhando em um imunizante modificado para enfrentar a variante sul-africana. Isso provavelmente vai demorar até o outono europeu, disse ela.

 

Devo me vacinar com a vacina da AstraZeneca?

A vacina da AstraZeneca também oferece alguma proteção contra variantes virais. Isso porque todas são variantes da cepa original do coronavírus, contra a qual a vacina foi originalmente desenvolvida. A vacina não reconhece, portanto, as mutações, mas é capaz de identificar a parte original.

 

A OMS recomenda provisoriamente a vacina para todas as pessoas acima de 18 anos, mesmo que haja variantes do coronavírus em um país. Além disso, aconselha a vacina para pessoas com enfermidades pré-existentes, que correm o risco de agravamento da doença, incluindo obesidade, doenças cardiovasculares ou respiratórias e diabetes.

 

Para quem tem HIV e doenças autoimunes ou pacientes imunocomprometidos, são necessários mais estudos, disse. Mas elas podem ser vacinados após um aconselhamento, caso estejam num grupo para o qual a vacinação, em geral, é recomendada.

 

Há poucos dados disponíveis sobre se a vacina é segura para gestantes. Entretanto, se os benefícios da vacinação de uma mulher grávida superarem os riscos potenciais, a vacinação é possível, informou. Pessoas com um histórico de reações alérgicas graves a qualquer componente da vacina não devem tomá-la. Isto também se aplica às vacinas mRNA, como explicou o presidente do Instituto alemão Paul Ehrlich à DW, Klaus Cichutek.

 

Esta vacina é adequada para todas as faixas etárias?

As opiniões dos especialistas diferem a esse respeito. A Organização Mundial da Saúde recomenda a vacina para todas as pessoas com 18 anos ou mais, incluindo as acima de 65 anos. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) também diz que a vacina pode ser usada por todas as pessoas com 18 anos ou mais. E informa que não há resultados suficientes com pessoas idosas para mostrar como a vacina funciona nelas, mas a proteção é esperada "como resposta imunológica vista nesta faixa etária" segundo a experiência com outras vacinas.

 

Já a comissão alemã de vacinas Stiko recomenda a vacina da AstraZeneca somente para pessoas até 64 anos, citando a falta de dados sobre a eficácia da vacina em pessoas idosas. A maioria dos participantes nos testes da AstraZeneca tinha entre 18 e 55 anos de idade. A AstraZeneca disse que "a eficácia da vacina em grupos etários mais altos não pôde ser avaliada" e que estudos sobre isto se seguiriam.

 

Por que a vacina da AstraZeneca é tão popular em muitos países?

A vacina da AstraZeneca é atraente por duas razões principais: ao contrário das vacinas da Biontech-Pfizer e da Moderna, a da AstraZeneca não precisa ser armazenada a temperaturas extremamente baixas. Ela pode ser submetida a temperaturas normais de refrigeração (2-8 graus Celsius) por pelo menos seis meses, o que facilita seu transporte. Isto possibilita que um médico clínico geral possa vacinar em seu consultório.

 

Em comparação, a vacina da Biontech-Pfizer tem que ser mantida sob refrigeração de 2º C a 8º C, por no máximo 120 horas, e pode ser armazenada em freezers de temperatura ultrabaixa (pelo menos -70º C).

 

Além disso, a vacina da AstraZeneca é considerada mais barata. O preço exato não é claro. Um tuíte já apagado publicado pela secretária de Estado belga Eva De Bleeker informava os preços por dose: 15 euros para a vacina da Moderna, 12 euros para a da Biontech-Pfizer e 1,78 euros para a da AstraZeneca. De acordo com a AstraZeneca, o preço é baixo porque a cadeia de fornecimento é simples e não há intenção de lucro.

 

A AstraZeneca e a Biontech-Pfizer fizeram acordos com a Covax, uma iniciativa global destinada a distribuir vacinas de baixo custo para países de baixa e média renda. A Covax é uma parceria que integra a Aliança para as Vacinas (Gavi) e a Organização Mundial da Saúde.

 

Qual a causa da disputa entre União Europeia e AstraZeneca?

A AstraZeneca havia anunciado no final de janeiro que inicialmente forneceria apenas 31 milhões de doses, em vez das 80 milhões de doses de vacinas previstas no primeiro trimestre para os 27 países da União Europeia (UE). O chefe executivo da fabricante, Pascal Soriot, explicou os atrasos dizendo que nas fábricas na Bélgica e na Holanda o rendimento não estava sendo tão alto quanto previsto originalmente. Isto estaria sendo reajustado, mas levaria tempo. A empresa rejeitou a acusação dos representantes da UE de que a AstraZeneca estaria abastecendo o Reino Unido de forma preferencial e ininterrupta.

 

Em 31 de janeiro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, escreveu no Twitter que a AstraZeneca entregaria 9 milhões de doses adicionais no primeiro trimestre, perfazendo um total de 40 milhões. Além disso, as entregas começariam uma semana mais cedo do que o planejado. Mesmo assim, esta é apenas a metade da remessa prometida originalmente, de 80 milhões de doses de vacinas.

 

A vacina de Oxford no Brasil

O primeiro lote do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) para a produção das vacinas Oxford/AstraZeneca pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) chegou no início de fevereiro ao Brasil. O material deve finalmente possibilitar a produção dessa vacina contra a covid-19 em território nacional, após seguidos atrasos.

 

O insumo foi fabricado no laboratório Wuxi Biologics, na China. O laboratório chinês foi vistoriado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no fim do ano passado e é parceiro da farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca, que desenvolveu a vacina em parceria com a Universidade de Oxford, do Reino Unido.

 

Apesar dos atrasos na chegada do insumo, a Fiocruz afirma que é possível manter o compromisso de entregar 100 milhões de doses até julho, como havia sido anunciado anteriormente.

 

Os termos do acordo entre a Fiocruz, a AstraZeneca e a Universidade de Oxford preveem que, inicialmente, o Brasil vai produzir a vacina com IFA importado.

Posteriormente, Bio-Manguinhos vai nacionalizar a produção do insumo, o que deve ocorrer no segundo semestre, a partir de um processo de transferência de tecnologia.

Após a nacionalização do IFA, a Fiocruz prevê produzir mais 110 milhões de doses até o fim deste ano, chegando a um total de mais de 210,4 milhões de doses.

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