Ir às compras pode ter uma etapa a mais no comércio gaúcho a partir desta semana. Medir a temperatura de funcionários, colaboradores, clientes e lojistas antes de ingressarem nos estabelecimentos está entre os protocolos recomendados pelo decreto de distanciamento controlado do governo do Estado, que estipula normas para o funcionamento de diversos setores. 

A sugestão contempla centros comerciais e shoppings de municípios de bandeiras amarela e laranja, as mais amenas — nos de bandeira vermelha e preta, esse tipo de estabelecimento não pode abrir. Uma portaria da Secretaria Estadual da Saúde sugere que a medição seja feita com termômetro digital infravermelho. Caso a temperatura seja igual ou superior a 37,8 graus, o local pode impedir a entrada e deve orientar a pessoa sobre o acompanhamento dos sintomas e busca de atendimento em um serviço de saúde. 

A medida que pode vir a ser adotada pelo comércio varejista em boa parte do Estado já estava entre os protocolos de alguns shoppings e supermercados nas últimas semanas. Enquanto alguns começaram a fazer a aferição de temperatura por iniciativa própria, outros atenderam a recomendações do poder público municipal. Foi o caso do Canoas Shopping, na Região Metropolitana. Há mais de um mês, o local monitora a temperatura de funcionários e lojistas, e nas últimas semanas estendeu o protocolo para os clientes. 

— Tinha uma recomendação da prefeitura, e por precaução resolvemos adotar. Ampliar para os clientes foi fácil, porque já estávamos fazendo isso internamente — conta o superintendente Ferdinando Genduso. 

Para ingressar em qualquer uma das três portas de acesso ao shopping, é preciso passar por uma medição feita com termômetro infravermelho e, depois, higienizar as mãos com álcool gel — para evitar o compartilhamento, o dispensador do produto é acionado pelo pé. Assim como determina o decreto estadual, só é permitida a entrada de pessoas que estiverem usando máscaras de proteção. Segundo Genduso, ainda não foi necessário barrar o ingresso de pessoas que estivessem com febre.  

Nas duas unidades do Mercado Brasco, em Porto Alegre, a aferição de temperatura dos funcionários entrou na rotina logo do começo da pandemia, e deve seguir sendo realizada, segundo Gabriel Drumond, um dos sócios. Embora o estabelecimento não esteja entre aqueles que o Estado recomenda o protocolo, e a prefeitura não tenha determinado medidas nesse sentido, o local adotou o procedimento como forma de precaução. Os donos não pretendem, no entanto, realizar o mesmo processo com os clientes:

— Não temos equipes para fazer isso atualmente, nem achamos que o termômetro infravermelho é muito preciso (para os funcionários, é utilizado o termômetro comum) — diz. 

Embora represente um cuidado a mais durante a pandemia de coronavírus, a aferição de temperatura é considerada pouco efetiva para barrar a circulação do vírus por quem atua na área da saúde. Membro da Câmara Técnica de Infectologia do Conselho Regional de Medicina (Cremers), Paulo Ernesto Gewehr lembra que parte da transmissão do vírus dá-se por pessoas assintomáticas, e que mesmo aquelas que irão manifestar algum sintoma podem infectar outras até 48h antes de apresentarem febre. 

— O Ministério da Saúde e a OMS não recomendam medição de temperatura como método de triagem para o coronavírus, mas também não contra-indicam. Em geral tem pouco resultado porque acaba detectando poucos pacientes — diz o infectologista, que defende o foco em outras medidas de prevenção, como o uso de máscaras, a higienização das mãos e o distanciamento social. 

Protocolo restrito

Conforme entidades que representam lojistas e comerciantes, ainda são poucos os estabelecimentos que se mobilizaram para adotar o procedimento. Todas dizem ver com bons olhos a ideia, mas acreditam que ela deverá ficar restrita aos locais de grande porte: 

— Certamente as grandes empresas vão fazer, porque isso deixa os clientes mais tranquilos, mas as pequenas terão dificuldades. Nelas, circula menos pessoas — avalia o presidente do Sindilojas, Paulo Kruse. 

Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e proprietário de uma rede de lojas de materiais de construção, Irio Piva acredita que o alto custo — há termômetros a partir de R$ 300 — deve ser um empecilho para a adoção do protocolo por pequenos comércios.

— Nossa orientação é que deve-se respeitar todas as medidas obrigatórias. Sobre as recomendadas, estamos sugerindo que quem tiver condições utilize — diz o dirigente, que encomendou alguns modelos para testar em suas lojas.