Delegados esperam que o novo chefe da PF saiba dizer não a pedidos políticos
Colegas destacam competência técnica de Rolando Alexandre Souza e combate a desvios de recursos
Fosse apenas uma indicação técnica, a escolha do gaúcho Rolando Alexandre Souza como novo diretor-geral da Polícia Federal estaria sacramentada sob aplausos dos colegas. Ele atua, como cedido, na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o órgão de contraespionagem do governo federal. Agora volta à PF como chefe máximo.
GaúchaZH ouviu delegados da PF, a maioria sob condição de anonimato, algo vital em tempos de turbulência política.
Todos elogiaram Rolando, como é conhecido o novo chefe. Sobretudo no critério competência. O dilema é ele ter sido escolhido por apadrinhamento, indicado por Alexandre Ramagem, pessoa de confiança da família Bolsonaro. Entre os delegados consultados, há um sentimento de luto com a saída de Sergio Moro, o pai da Operação Lava-Jato, do Ministério da Justiça. E, como se sabe, o ministro deixou o cargo justamente por discordar do fato de o presidente Bolsonaro tentar indicar alguém que coloque relatórios da PF em suas mãos, de manhã cedo.
Os delegados desejam que Rolando não se submeta a esse tipo de orientação.
O delegado Edvandir Paiva, presidente da Associação dos Delegados da PF (ADPF), não vê reparos ao nome, mas à condição política em que se deu a escolha. Ele ressalta que Rolando já foi corregedor da PF em Rondônia (“missão sempre complicada”), chefe do setor de combate à corrupção e superintendente. Não é inexperiente, portanto. E, por isso, sua ida para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi vista como a ida de “alguém que resolve”.
— Dito isso, o contexto complica a missão do delegado Rolando, que terá uma das mais difíceis missões que alguém já pegou na PF. O desafio dele é ter habilidade para manter a altivez. Esperamos estabilidade. Que ele saiba dizer não a políticos políticos, estranhos à sua tarefa policial. A PF é órgão de Estado, não de governo — define Paiva.
Aqui, a opinião de alguns colegas:
“Um cara bom, técnico, competente. Criador do melhor sistema de cruzamento de dados da PF (Atlas). Foi chefe do SRDP/DICOR (Serviço de Repressão a Desvios de Recursos Públicos) por um bom tempo, antes de ser SR/AL”. Opinião de um delegado de fora do RS.
“É competente, técnico e trabalhador, o tempo dirá se estava preparado para a direção. Hoje os delegados chegam aos cargos de direção com 15 anos, lhes falta experiência. Com 15 anos o cara é delegado especial no máximo há dois anos. Torcer para que acerte”. Opinião de um delegado com cargo de chefia na PF.
“Se for para combater a corrupção é um nome excelente. Mas tem de ser para isso mesmo”, pondera um terceiro delegado, ligado à Lava-Jato.