Mangueira busca bicampeonato com releitura crítica da vida de um Jesus Cristo nascido no morro
Escola tenta seu 21º título com narrativa sobre história de Jesus, na qual imagina as diferentes faces que poderia ter nos dias modernos, de presos a negros e mulheres.
Por G1
O calvário de um Jesus com a face de um jovem negro, no desfile da Mangueira — Foto: Fabio Tito/G1
A Mangueira levou uma das histórias mais contadas do mundo à Sapucaí na noite deste domingo (23). No primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Rio, a escola buscou o bicampeonato com uma releitura crítica da vida de Jesus Cristo, mostrando até uma versão moderna nascida no morro.
- A Mangueira explorou diferentes faces de Jesus, sua vida e seus ensinamentos nos dias modernos, como jovens negros e pobres presos, indígenas, mulheres e membros da comunidade LGBT;
- no quarto carro, uma estátua gigante mostrava um jovem Jesus negro crucificado;
- no abre-alas, o presidente de honra Nelson Sargento e a cantora Alcione representaram José e Maria.
Nelson Sargento e Alcione são José e Maria, pais de Jesus, no desfile da Mangueira
Com 4.000 componentes, a verde e rosa cantou o enredo "A Verdade vos fará livre", em 19 alas, com cinco carros e três tripés.
O responsável foi Leandro Vieira, carnavalesco que estreou na Mangueira campeão em 2016. Em 2019, venceu com um desfile sobre a história brasileira com destaque a heróis da resistência negra e indígena.
A bateria de 2020 entrou com fantasias com balaclavas negras e caveiras, representando a brutalidade romana na época de Cristo. No comando dos 250 ritmistas estava o mestre Wesley Assumpção, que ganhou o apelido de mestre 40, em referência aos 40 pontos conquistados pela bateria em 2019.
Ao longo do desfile, a escola explorou diferentes faces de Jesus.
Na comissão de frente, ele apareceu em sua representação clássica, um homem branco de cabelos longos e barbas, misturado com uma versão que imagina como seria nos tempos modernos. Ao andar com pobres em bailes funks no morro, dançou e sofreu repressão policial.
Carro alegórico "O Calvário" é um dos destaques do desfile da Mangueira
Outra versão foi vivida pela rainha de bateria. Evelyn Bastos entrou na avenida como um Jesus mulher. De vestido roxo, acorrentada e com uma coroa de espinho, ela não sambou na Sapucaí.
Mesmo assim, a Mangueira retratou também passagens clássicas do Novo Testamento, como a visita dos Três Reis Magos e seus presentes, a visita a um templo transformado em mercado (em uma grande alegoria com o ator Humberto Carrão), e seu calvário.
Nas baianas, seguindo a narrativa de misturar o clássico com o moderno, a escola retratou a perseguição à religiões de origens africanas, com as integrantes carregando duas cruzes nas costas.
Em frente a um carro sobre as dores de Cristo, uma ala refletia se uma das faces de Jesus não poderia estar nos presos do Brasil, formados em sua maioria por jovens negros, pobre e de baixa escolaridade.
No quinto e último carro, sobre a ressurreição de Cristo, um morro colorido da Mangueira, com a cantora Leci Brandão, cercava um Jesus negro ascendendo aos céus com um manto verde e rosa.
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Panorama do desfile da verde e rosa — Foto: Reprodução/TV Globo
Na alegoria da Mangueira, a figura de Jesus aparece em situação de rua, maltrapilho e mendigando — Foto: Marcelo Brandt/G1
Evelyn Bastos, rainha da Mangueira, vira à frente da bateria como uma representação de Cristo — Foto: Marcos Serra Lima/G1
Comissão de frente da Mangueira mostrou Jesus em baile funk e sendo agredido pela polícia — Foto: Marcelo Brandt/G1