A Mangueira levou uma das histórias mais contadas do mundo à Sapucaí na noite deste domingo (23). No primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Rio, a escola buscou o bicampeonato com uma releitura crítica da vida de Jesus Cristo, mostrando até uma versão moderna nascida no morro.
- A Mangueira explorou diferentes faces de Jesus, sua vida e seus ensinamentos nos dias modernos, como jovens negros e pobres presos, indígenas, mulheres e membros da comunidade LGBT;
- no quarto carro, uma estátua gigante mostrava um jovem Jesus negro crucificado;
- no abre-alas, o presidente de honra Nelson Sargento e a cantora Alcione representaram José e Maria.
Nelson Sargento e Alcione são José e Maria, pais de Jesus, no desfile da Mangueira
Com 4.000 componentes, a verde e rosa cantou o enredo "A Verdade vos fará livre", em 19 alas, com cinco carros e três tripés.
O responsável foi Leandro Vieira, carnavalesco que estreou na Mangueira campeão em 2016. Em 2019, venceu com um desfile sobre a história brasileira com destaque a heróis da resistência negra e indígena.
A bateria de 2020 entrou com fantasias com balaclavas negras e caveiras, representando a brutalidade romana na época de Cristo. No comando dos 250 ritmistas estava o mestre Wesley Assumpção, que ganhou o apelido de mestre 40, em referência aos 40 pontos conquistados pela bateria em 2019.
Ao longo do desfile, a escola explorou diferentes faces de Jesus.
Na comissão de frente, ele apareceu em sua representação clássica, um homem branco de cabelos longos e barbas, misturado com uma versão que imagina como seria nos tempos modernos. Ao andar com pobres em bailes funks no morro, dançou e sofreu repressão policial.
Carro alegórico "O Calvário" é um dos destaques do desfile da Mangueira
Outra versão foi vivida pela rainha de bateria. Evelyn Bastos entrou na avenida como um Jesus mulher. De vestido roxo, acorrentada e com uma coroa de espinho, ela não sambou na Sapucaí.
Mesmo assim, a Mangueira retratou também passagens clássicas do Novo Testamento, como a visita dos Três Reis Magos e seus presentes, a visita a um templo transformado em mercado (em uma grande alegoria com o ator Humberto Carrão), e seu calvário.
Nas baianas, seguindo a narrativa de misturar o clássico com o moderno, a escola retratou a perseguição à religiões de origens africanas, com as integrantes carregando duas cruzes nas costas.
Em frente a um carro sobre as dores de Cristo, uma ala refletia se uma das faces de Jesus não poderia estar nos presos do Brasil, formados em sua maioria por jovens negros, pobre e de baixa escolaridade.
No quinto e último carro, sobre a ressurreição de Cristo, um morro colorido da Mangueira, com a cantora Leci Brandão, cercava um Jesus negro ascendendo aos céus com um manto verde e rosa.
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Panorama do desfile da verde e rosa — Foto: Reprodução/TV Globo
Na alegoria da Mangueira, a figura de Jesus aparece em situação de rua, maltrapilho e mendigando — Foto: Marcelo Brandt/G1
Evelyn Bastos, rainha da Mangueira, vira à frente da bateria como uma representação de Cristo — Foto: Marcos Serra Lima/G1
Comissão de frente da Mangueira mostrou Jesus em baile funk e sendo agredido pela polícia — Foto: Marcelo Brandt/G1