SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quarta-feira (8) em discurso na Casa Branca que o Irã está "se acalmando", em um sinal de diminuição nas tensões entre Washington e Teerã.
O republicano disse ainda que Washington vai impor novas sanções contra o Irã em breve e que a pressão econômica é a melhor arma do país.
Cercado pela cúpula militar dos EUA, o presidente confirmou que nenhum americano ou soldado aliado foi ferido nos ataques iranianos a bases militares no Iraque na madrugada desta quarta.
"O Irã tem sido um grande patrocinador do terrorismo. Nunca deixaremos isso acontecer", afirmou ele ao lado de seu vice-presidente, Mike Pence.
Trump voltou a repetir que não permitirá que o Irã tenha acesso a armas nucleares e que os dois países deveriam trabalhar juntos em assuntos prioritários, como a luta contra o Estado Islâmico. "Os EUA estão prontos para apoiar a paz com todos que a busquem", disse ele.
O presidente americano disse ainda que não quer usar o poder militar, e que pressionar o Irã usando a força econômica dos EUA é uma opção melhor. Apesar disso, falou que pedirá à Otan (aliança militar que reúne países do Ocidente) para ampliar sua presença no Oriente Médio.
Ele também afirmou que os países da Europa, a China e a Russia devem deixar o acordo nuclear feito com o Irã. Por este acordo, o Irã se comprometeu a reduzir sua capacidade nuclear em troca do alívio das sanções.
Trump retirou os EUA do acordo em 2018, mas outros países se mantiveram nele. No entanto, o acerto está por um fio. No domingo (5), o Irã disse que se considera livre para desrespeitar os limites combinados.
O presidente do Brasil Jair Bolsonaro fez uma live numa rede social durante o pronunciamento de Donald Trump. Ele apareceu sentado de frente para uma televisão ligada no canal Globo News, que transmitia a fala do americano.
O pronunciamento de Trump é uma resposta a um grande ataque com mísseis realizado pelo Irã na madrugada desta quarta-feira (8) contra duas bases iraquianas que abrigam militares americanos.
A ofensiva iraniana, por sua vez, foi uma retaliação pela morte do chefe da força de elite da Guarda Revolucionária iraniana, Qassim Suleimani, por um drone americano em Bagdá na última sexta (3).
Suleimani era considerado a segunda pessoa mais importante do Irã, atrás apenas do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Desde então, as tensões entre os dois países sofreram uma forte escalada, com ameaças dos dois lados.
Horas depois do ataque desta quarta, o governo iraniano celebrou a operação.
O aiatolá Khamenei disse em discurso na TV que o ataque foi um "tapa na cara" dos Estados Unidos. "O que importa é que a presença corrupta dos Estados Unidos nesta região tem que terminar", frisou.
Khamenei já havia pedido uma vingança severa pela morte de Suleimani.
Os alvos foram a base aérea de Ain al Assad, no oeste do país, e uma base próxima ao aeroporto de Erbil, quarta maior cidade do Iraque e capital da região autônoma do Curdistão, no norte.
O presidente do Irã, Hassan Rowhani, disse que a resposta final do país à morte de Suleimani será a expulsão de todas as forças dos EUA da região. "O general Suleimani lutou heroicamente contra o Estado Islâmico e a Al Qaeda. Se não fosse por sua guerra ao terror, capitais europeias estariam em grande perigo agora", publicou em uma rede social.
O governo iraquiano revelou nesta quarta que foi informado pelo Irã de que haveria um ataque iminente contra bases em seu território.
"Recebemos uma mensagem verbal oficial do Irã de que a resposta ao assassinato de Qassim Suleimani tinha começado ou ia começar em instantes, e que o ataque seria limitado aos locais onde estão instaladas as forças dos Estados Unidos, sem precisar os locais", disse um comunicado do gabinete do premiê Adel Abdul Mahdi.
O primeiro-ministro da região do Curdistão no Iraque, Masrour Barzani, disse em um post em uma rede social que falou por telefone Mike Pompeo e que sugeriu maneiras de diminuir a escalada e conter a situação.
Já o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, advertiu o Irã, nesta quarta, que dará uma resposta "retumbante", caso seu país seja atacado.
No domingo, uma autoridade iraniana havia ameaçado transformar cidades israelenses em "pó", "se os Estados Unidos reagirem à resposta militar" iraniana, após a morte de Suleimani.
Nesta quarta, Netanyahu classificou Suleimani de "chefe terrorista" e de "arquiteto da campanha de terror" no Oriente Médio.
O premiê israelense, que considera o Irã o principal inimigo de Israel, manifestou sua solidariedade aos Estados Unidos, em uma entrevista coletiva em Jerusalém, na presença do embaixador americano em Israel, David Friedman.
A base aérea atingida em Ain al Assad fica na província de Anbar, a cerca de 200 km de Bagdá. É um centro das operações americanas no oeste do país há vários anos. Foi construída em 2017, como parte da campanha dos EUA contra o Estado Islâmico -à época, abrigava cerca de 500 militares e civis americanos.
Uma parte dos soldados partiu após a derrota do Estado Islâmico, no ano passado, mas ainda assim o local é significativo. Em dezembro de 2018, Trump visitou de surpresa as instalações -foi a primeira vez que o republicano visitou tropas estacionadas em uma zona de combate.
Já a base de Erbil é um centro de operações usado por helicópteros e aviões como base para operações no norte do Iraque e Síria.
Após o ataque, o Pentágono afirmou que tomaria todas as medidas necessárias para proteger os soldados e civis na região. Mais de 5.000 soldados dos EUA permanecem no país, com outras forças estrangeiras, como parte de uma coalizão que treinou e apoiou as forças de segurança iraquianas contra a ameaça de militantes do Estado Islâmico.
Em um comunicado, a agência de aviação americana proibiu aviões de passageiros de voarem sobre o Iraque, o Irã e o Golfo Pérsico.
Mais cedo na terça, o secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, disse que os Estados Unidos deveriam antecipar a retaliação do Irã pelo assassinato de Suleimani.
"Acho que devemos esperar que eles retaliem de alguma forma", disse Esper em entrevista coletiva no Pentágono. "Estamos preparados para qualquer contingência. E então responderemos adequadamente ao que eles fizerem."
Também nesta terça, uma importante autoridade iraniana disse que Teerã estava considerando vários cenários para vingar a morte de Suleimani. "Vamos nos vingar, uma vingança dura e definitiva", disse o chefe da Guarda Revolucionária, general Hosein Salami, às multidões que lotavam as ruas para o funeral de Suleimani em Kerman.
O Parlamento do Irã aprovou nesta terça uma lei que designa as Forças Armadas dos Estados Unidos como "terroristas", ao passo em que a Guarda Revolucionária pediu a retirada total do Exército americano do país.
Autoridades dos EUA disseram que Suleimani foi morto por causa da inteligência sólida, indicando que as forças sob seu comando planejavam ataques a alvos americanos na região, embora não tenham fornecido provas.