A encenação aconteceu pela primeira vez em Goiás em 1745. Desde então, 40 moradores da cidade vestem as túnicas e capuzes coloridos e saem descalços pelas ruas irregulares de pedra do município. Nenhum deles diz se importar com dor ou incômodo.
As luzes são apagadas ainda na noite de quarta-feira (17) e apenas as chamas das tochas, os flashes de celulares e a lua cheia iluminam os passos . Às 23h, as equipes checam toda a vestimenta e as entregam aos farricocos. Começa o momento de adrenalina e ansiedade.
Há nove anos participando da procissão, o estudante Pedro Henrique Alves Martins, de 24 anos, é o responsável por carregar o estandarte com a imagem de Jesus Cristo, simbolizando sua captura e crucificação.
“Esse é o segundo ano que levo o estandarte. Antes de mim era o meu pai. Agora, dou continuidade a essa tradição. É uma sensação difícil de descrever, fica um misto de nervosismo e ansiedade. E a gente sempre se emociona”, relatou.
Já o policial militar reformado Carlos Santana participa há 40 anos da encenação. Começou na fanfarra, que dita o ritmo da caminhada, e hoje é o farricoco responsável por tocar o clarim que anuncia a prisão do filho de Deus.
“A gente vai se acostumando com os anos, mas é sempre uma adrenalina. Comecei nos anos 80 e venho mantendo esse compromisso até hoje", afirma.
A primeira parada é no Santuário do Rosário, que representa a Santa Ceia. A imagem dos farricocos com a tocha nas escadarias enche os olhos dos turistas, principalmente estrangeiros.
“Nunca vi algo assim, é muito bonito e diferente. Estou impressionado”, disse o inglês Thomas Zach, que está passando férias no Brasil com a esposa e dois filhos.
A aposentada Maria Siqueira de Assunção escolheu um lugar alto para esperar os farricocos chegarem. “Tem dez anos que saio de Goiânia e venho para cá acompanhar. Todo ano me emociono e choro”, relatou.
A procissão segue até a Igreja de São Francisco, onde acontece a prisão de Cristo. O toque do clarim volta a emocionar os presentes, que rezam o Pai Nosso e a Ave Maria.
À 1h da madrugada, os farricocos voltam ao ponto de partida. As tochas são apagadas. É o fim da celebração. Mas um reforço para a tradição e uma marca nos corações dos fiéis.