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Lotéricas querem sair do vermelho
Governo
Publicado em 07/05/2018
Lotéricas querem sair do vermelho

Donos de agências lotéricas lutam pela aprovação de projeto de lei no Senado que garanta melhor remuneração por serviços bancários

Negócio muito disputado no passado, as agências lotéricas deixaram de ser símbolo de lucro garantido. Mais de 500 fecharam as portas desde 2016, segundo dados da Federação Brasileira de Empresas Lotéricas (Febralot). Grande parte dos que ainda sobrevivem operam no vermelho. O dono da agência lotérica Toca da Sorte, no setor Leste Vila Nova, em Goiânia, Adriano de Oliveira Xavier, conta que apesar da manutenção do faturamento, o custo operacional aumentou muito. Ele já está trabalhando há alguns meses com déficit e perdeu um dos sócios por dívidas. “A folha de pagamento, o aluguel, a energia, tudo subiu. Mas o reajuste das tarifas não acompanhou o aumento. Tivemos que demitir três funcionários e fazer empréstimo para continuar funcionando”, revela ele.

A solução para o problema defendida pelos lotéricos está na aprovação do PLC 1/2018, em tramitação no Senado. O projeto de lei prevê remunerações mais justas para as transações bancárias realizadas pelas loterias. Para se ter uma ideia, segundo Adriano, os lotéricos recebem R$ 0,57 por boleto e pagam R$ 0,59 só de transporte de quantias superiores a R$ 500. “Os valores estão defasados em 13 anos. Há 20 anos, a tarifa era de R$ 0,24 e o salário era R$ 136. Em 2018, a tarifa deveria ser de R$ 1,68 para acompanhar o aumento do salário mínimo”, calcula.

A classe lotérica também luta por valorização, pois sua importância social é nítida, principalmente nos municípios menores, onde nenhum banco chega. As agências lotéricas estão presentes em 96% dos municípios e são a única opção da população para fazer transações bancárias na maioria dos pequenos municípios brasileiros. Enquanto isso, a Caixa fechou o ano de 2017 com lucro de R$ 12,5 bilhões.

O empresário lotérico Othon Rodrigues Gonçalves, da Agência Lotérica Botafogo, em Goiânia, destaca a falta de segurança jurídica que vive a classe. “Só uma lei pode nos ajudar. Hoje sobrevivemos de circulares e normas precárias, que nem sempre são cumpridas. Os valores pagos são injustos. Os bancos contam com lucros exorbitantes enquanto recebemos valores defasados pelo mesmo serviço”, afirma. Othon amargou uma queda de 20% no faturamento, viu toda sua reserva financeira se esvair, demitiu dois funcionários e está na iminência de demitir mais um para cortar custos.

O empresário lotérico Marcos Paulo de Barros, da loteria Ponto da Sorte, na Vila Galvão, em Senador Canedo, tem uma loja que necessita de quatro funcionários e está funcionando com apenas dois. Segundo ele, o custo fixo de funcionamento varia entre 13 e 15 mil por mês e a receita atual é de R$ 16 mil. Dono da loteria Liberdade, de Catalão, Luciano Goulart Rodovalho reclama de trabalhar com margem de lucro muito enxuta. Ele afirma que assume muita responsabilidade, porque a movimentação de dinheiro é grande, mas não tem rentabilidade. Para sobreviver, ele e a esposa têm que trabalhar eles mesmos no caixa. Essa margem de lucro o colocou em situação muito difícil, pois ele mesmo já foi abordado por bandidos na saída da loteria. Com uma margem de ganho maior, ele teria condições de contratar segurança, colocar câmera e trazer conforto para atendimento ao cliente. Para ele, a aprovação do PLC 1 pode trazer parâmetros justos para os parceiros da Caixa.

Empresário lotérico de Aruanã, Douglas Alves do Nascimento, da loteria Araguaia, diz que a remuneração sem reajuste há anos propiciou um cenário de verdadeiro caos.  Ele conta que tem outros negócios que permitem sua sobrevivência, porque se fosse viver da loteria, morreria de fome.

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