O presidente russo, Vladimir Putin, tem um novo general supervisionando sua guerra na Ucrânia, e seus comandantes militares estão sinalizando uma nova fase na guerra: um esforço total para tomar e manter as partes da região de Donbass, na Ucrânia, que ainda está sob controle ucraniano.
Os ucranianos parecem estar levando essa ameaça ao pé da letra. Nas regiões orientais de Donetsk e Luhansk, autoridades locais têm pedido a evacuação de muitas comunidades, abrindo corredores humanitários para que civis partam para partes mais seguras da Ucrânia.
Na região nordeste de Kharkiv, as autoridades estão evacuando as cidades de Barvinkove e Lozova. Em Dnipro, capital regional no centro-leste da Ucrânia, o prefeito, Borys Filatov, pediu que mulheres, crianças e idosos saíssem.
“A situação está gradualmente esquentando em Donbass, e entendemos que abril será bastante quente”, disse Filatov recentemente. “Portanto, um grande pedido: todos que têm a oportunidade (como eu disse repetidamente), que saiam – em primeiro lugar, isso se aplica a mulheres, crianças e idosos que não estão envolvidos no trabalho de infraestrutura crítica.”
A Rússia pode montar uma nova ofensiva aterrorizante no leste? As imagens de satélite mais recentes coletadas e analisadas pela Maxar Technologies mostram um comboio militar russo de 13 quilômetros de extensão indo ao sul através da cidade de Velkyi Burluk, no leste da Ucrânia, para o leste da cidade de Kharkiv.
Em declarações à televisão nacional no sábado (9), Vadym Denysenko, assessor do ministro do Interior da Ucrânia, disse que Kharkiv estava “sendo bombardeada praticamente o dia todo” e que uma ofensiva russa era esperada na região de Kharkiv, vinda da direção de Izium.
Especialistas militares e oficiais ocidentais também especularam que os generais de Putin estão sentindo a pressão para entregar algum tipo de resultado antes de 9 de maio, quando a Rússia marca o Dia da Vitória, que relembra a derrota da Alemanha nazista em 1945.
Mas uma nova análise do Instituto para o Estudo de Guerra (ISW, na sigla em inglês), um “think tank” com sede nos Estados Unidos, lança algumas dúvidas sobre a capacidade da Rússia de concentrar as forças necessárias para fazer um avanço em Donbass.
“Avaliamos que os militares russos terão dificuldades para reunir uma força grande e capaz para combate de unidades mecanizadas para operar em Donbass nos próximos meses”, afirma a análise. “A Rússia provavelmente continuará a lançar unidades muito danificadas e parcialmente reconstituídas aos poucos em operações ofensivas que obtêm ganhos limitados a um grande custo”.
Analistas militares e observadores dizem que a Rússia pode ter dificuldades para reorganizar as forças que foram atacadas pelos militares ucranianos, particularmente na defesa de Kiev e do norte da Ucrânia.
Antes da invasão, a Rússia havia organizado aproximadamente 120 grupos táticos de batalhão ao redor da Ucrânia. De acordo com uma autoridade europeia, cerca de um quarto dessas forças estão “efetivamente inoperáveis”, após pesadas baixas e a destruição de equipamentos.
Em 8 de abril, um oficial de defesa dos EUA deu uma estimativa ligeiramente diferente, dizendo que as forças russas estavam agora “abaixo de 85% de seu poder de combate disponível avaliado” reunidos antes da invasão de 24 de fevereiro.
Essas estimativas de defesa dos EUA, disse o ISW, “exageram involuntariamente as atuais capacidades de combate dos militares russos”.
De acordo com o ISW, “as dezenas de grupos táticos do batalhão russo (BTGs, na sigla em inglês) que se retiraram de Kiev, provavelmente possuem poder de combate que é uma fração do que o número de unidades ou o número total de pessoal com essas unidades sugeriria. Unidades russas que lutaram na Ucrânia sofreram danos terríveis”.
A nomeação de um novo comandante geral para liderar a guerra da Rússia na Ucrânia parece ser um esforço para remediar outro problema que tem dificultado as forças russas: a falta de coordenação.
“Aparentemente, os russos estão tentando resolver um dos problemas sofridos em sua invasão inicial, tornando o comandante do Distrito Militar do Sul, general Alexander Dvornikov, o único comandante geral de operações na Ucrânia”, afirmou o ISW.
“Esta simplificação da estrutura de comando russa pode não resolver todos os problemas de comando da Rússia, no entanto […] as forças russas provavelmente continuarão enfrentando dificuldades para estabelecer arranjos de comando e controle coerentes e eficientes no futuro próximo”.
Isso não significa que as próximas semanas serão fáceis para as forças ucranianas que lutam no leste.
O ISW disse que as forças armadas da Rússia “provavelmente obterão ganhos e podem surpreender ou desgastar as forças ucranianas o suficiente para garantir grande parte das regiões [chamadas de ‘oblasts’] de Donetsk e Luhansk, mas é igualmente provável que essas ofensivas russas culminem antes de atingir seus objetivos, como aconteceu com operações russas semelhantes”.
Em declarações no domingo, o conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, disse que a Ucrânia está preparada para intensos combates.
“A Ucrânia está pronta para grandes batalhas”, disse Podolyak. “A Ucrânia deve vencê-los, principalmente em Donbass. E depois disso, a Ucrânia terá uma posição negocial mais poderosa, a partir da qual poderá ditar certas condições. Depois disso, os presidentes [da Ucrânia e da Rússia] se reunirão. Isso pode levar duas ou três semanas”.
As próximas semanas podem provar se esse é um cenário excessivamente otimista. Mas apresenta o que parece ser uma posição de negociação, tanto quanto uma avaliação militar: Putin pode conversar agora, ou corre o risco de ficar significativamente mais fraco depois.